O tango é uma espora com a qual o homem se fere a si mesmo, é uma dança de passo cauteloso e retorcido, gestual com os gestos da sedução animal que, dentro da própria dança, vai urdindo a sua teia com a qual manieta a mulher que quer escapar à sua influência. O verdadeiro tango dançado é um tango de garatuja, pernalta e corcunda, insistente e humilde, em que as calças são acordeões que se dobram e desdobram e por fim se encavalitam num passo requintado. Um inglês disse que era uma declaração de amor feita com os pés e alguém mais atrevido que «era fazer a dançar aquilo que os outros fazem deitados». Uma senhora inglesa, em contrapartida, ao ver dançar um tango perguntou se se tratava de uma seita religiosa.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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