O monólogo de Véronika é talvez a parte mais referida e até venerada d’ A mãe e a puta. Compreende-se, tem a força dos desastres: uma explosão, uma chuva torrencial, esses fenómenos que atraem e metem medo.
Mas prefiro encarar este monólogo de um jeito menos isolado e mais dialéctico, como uma resposta a todas as coisas cruéis que Alexandre disse à personagem Véronika e à antiga amante Françoise Lebrun durante essa longa sequência de treze minutos no Flore. Como um verdadeiro contracampo — o mais intenso que já se viu num filme pois dura o tempo que tem de durar e usa um vocabulário em tudo contrário ao de Alexandre. Mostrando as suas contradições, as próprias debilidades do seu pensamento (haverá maior prova de sinceridade?), Véronika leva tudo pela frente: as palavras e a pose do amante e até as ideias do seu tempo. Exactamente como uma queimada quando o mundo era ainda rodeado de deuses.
E mesmo depois desta catarse, depois do vómito e do plano igual ao de La Chienne, e da representação de um final feliz (?), o espanto continua pois estas palavras de Véronika, estes sentimentos tão frágeis — caramba, foi Eustache que os escreveu, com todas as quebras e repetições de um lamento sem tréguas.
Depois da maior afronta, Eustache entregou o seu coração nu a Françoise.
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