Duvido de tudo o que faço. É um defeito que já nem me interessa ultrapassar, digamos que aprendi a tolerá-lo. Sem competências académicas para traduzir Cioran, sei contudo que chego lá quando, a meio das traduções dos Cadernos, começo a chorar ou a rir-me.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
Comentários
Emil Cioran / Nos Cumes do Desespero
Também podemos comemorar vitórias com lágrimas. Deveriam figurar nas notas de tradução.
Têm uma energia estranha, vêm do mais fundo do fundo. Parecem um grito e, no entanto, fazem-me lembrar a pequena Mouchette.
Cada vez me interessam mais os homens que choram, e menos os choramingas.
Terror dos terrores: os homens que não choram.
Haverá (tal como nas pérolas), lágrimas de cultura?
Nos Cadernos, Cioran escreve constantemente sobre as doenças e a decrepitude que avança no seu corpo. Isso entristece-me muito. São lágrimas de pesar.