Nada me parece assemelhar-se tanto a um bordel como um museu. Lá se encontra o mesmo aspecto equívoco e petrificado. Num, as Vénus, as Judites, as Susanas, as Junos, as Lucrécias, as Salomés e outras heroínas, em belas imagens imobilizadas; no outro, mulheres vivas, com os seus trajos tradicionais, com os seus gestos, a sua linguagem e os seus hábitos completamente estereotipados. Em qualquer destes lugares, estamos, de certa maneira, sob o signo da arqueologia; e se gostei durante muito tempo de bordéis é porque eles próprios têm que ver com a antiguidade, pela sua faceta de mercado de escravos e de prostituição ritual.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
Comentários
*Há um prazer de autodestruição na obsessão do absoluto. Daí a assombração do convento e do bordel. “Celas” e mulheres num lado como no outro. O desgosto de viver cresce tão bem à sombra dos santos como das putas.*
Emil Cioran / Lágrimas e Santos
Ed. 70; pág. 50