É o registo mais reduzido dos Cadernos: uma palavra de duas letras, um ponto de exclamação, um som sibilante.
Sabendo como Cioran aprecia o laconismo e o assombro pré-verbal das interjeições [em junho de 1971 escreveu: Decidi reunir as reflexões dispersas nestes trinta e dois cadernos. Só daqui a dois ou três meses é que verei se podem dar origem a um livro (cujo título poderá ser «Interjeições» ou então «O Erro de Nascer»).], atrevo-me a afirmar que este Fi! descreve de forma desconcertante mas profunda toda a sua obra.
Como se trata de uma interjeição de irritação, tem imensas possibilidades de tradução e se nenhuma agradar também se pode inventar um som agreste que se ajuste aos modos exaltados do filósofo.
Alguns exemplos:
Se quiser encostar Cioran ao Pedro Costa e ao Rui Chafes (— e porque não? ficam tão bem os três abrigados na letra C): Fora! — E está tudo dito.
Também posso levar a interjeição para o lado dos russos (via Filipe e Nina Guerra, se não me engano), preservo a semelhança gráfica e até fonética, mas troco a irritação pelo enfado: Fu!
Mantendo-me ao pé da letra, ainda tenho duas opções que me agradam bastante pela aspereza e porque me fazem lembrar o capitão Haddock: Apre! e, sobretudo, Irra!
É por isso que demoro tanto tempo a traduzir, qualquer coisa me serve para deambular. É certo que isto das interjeições não é um tema menor, pensando melhor até dava para escrever uma tese interessante —5 ou 6 paginas ?
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