O dia a dia transformou-se na catástrofe única. O anjo já não precisa de olhar para o passado; basta o tempo presente, feito de ruínas instantâneas, para lhe dar aquele ar atónito de olhos esbugalhados, boca escancarada e asas abertas — a nossa figura. Depois do cântico, a extinção.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
Comentários
Ele olha para o presente e por toda parte vê o passado; é isso que é terrível; ver o passado, por toda parte
Mas sim, o tempo presente é como um soco (ou como queiras), ruínas instantâneas...
Sempre o vi como um ser exterior e até um bocado distante (como o próprio Benjamin). Fiquei admirada quando percebi, pela descrição física, que somos nós. Mais profecia do que alegoria. Estamos tramados.
(Mas agora, é verdade, abandonados que estamos, sentimos que já nada nos pode salvar, nem ritual nem revolução, e isso certamente contribui para a quantidade de boca e olhos que abrimos