Para o crítico profissional (já fui um deles), ir ao teatro é o castigo de Adão. A peça é o mal que ele é pago para suportar com o suor de seu rosto: quanto mais depressa terminar, melhor. Isto parece colocá-lo em irreconciliável oposição ao frequentador de teatro que paga, e para quem quanto mais longa a peça, tanto mais entretenimento recebe em troca do seu dinheiro.
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Pois em Londres os críticos são amparados por considerável número de pessoas que vão ao teatro como muitos outros vão à Igreja: para exibir suas melhores roupas e compará-las com as dos outros; para estar em dia com a moda e para ter algum assunto nos jantares de gala; para admirar um actor favorito; para passar a noite em qualquer parte, menos em casa; em suma, por qualquer motivo ou por todos os motivos, excepto interesse na arte dramática em si.
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Assim, das poltronas e da imprensa ergue-se uma atmosfera de hipocrisia. Ninguém diz com franqueza que o teatro verdadeiro é uma grande maçada e exigir das pessoas que o suportem por mais de duas horas (com dois longos intervalos de alívio) é imposição intolerável. Ninguém diz: «Detesto a tragédia e a comédia clássicas, assim como detesto sermões e sinfonias, mas gosto do noticiário policial, das notícias de divórcio e de qualquer espécie de dança ou decoração que tenha efeitos afrodisíacos sobre mim, ou sobre a minha esposa (ou marido). E por mais que as pessoas superiores o finjam, não posso associar o prazer a qualquer espécie de actividade intelectual, nem tampouco acredito que haja alguém que o possa.» Estas coisas não se falam; entretanto, nove décimos do que se apresenta como crítica teatral na imprensa metropolitana europeia e americana nada mais são do que isso numa paráfrase meio confusa. Se não querem dizer isto, então não querem dizer mais nada.
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