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Uma família em Bruxelas

Além disso vejo ainda um grande apartamento quase vazio em Bruxelas. Só com uma mulher geralmente de roupão. Uma mulher que acaba de perder o marido. (...)

Para traduzir o livro de Chantal Akerman, mudei de método. Traduzi tudo de uma ponta à outra (não são muitas páginas) e depois fui trabalhando esse rascunho em blocos, alguns fáceis, outros muito complicados. Por fim, a parte mais difícil: garantir musicalidade, um ritmo de cantilena porque o texto é quase um monólogo e deve ser dito e ouvido. Lembrei-me de Graça Lobo a dizer a Molly Bloom ou da criada Zerlina tão extrema e foi desse modo teatral que me aproximei de Natalia Akerman — pela voz. 

Ando nisto desde finais de janeiro: ponho e tiro palavras, mudo-as de lugar, substituo, volto a substituir. 

Às vezes dou por mim a falar com as palavras simples e as repetições de Natalia e rio-me; mas à semelhança do livro, há um lado terrível que fica na sombra (a mãe de Chantal é mestre do fora de campo) e tenho medo de sonhar com Natalia, quer dizer com aquilo de que ela não quer falar.

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