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Disponibilidade para a solidão

Os discursos de António Costa são mal amanhados e quando ele se irrita (e irrita-se muitas vezes) engasga-se nas palavras e as frases parecem refletir pensamentos encavalitados e isso é mau — principalmente para os comentadores que apreciam a fineza oratória. No entanto, no discurso de ontem, creio que já perto do fim, Costa falou em «disponibilidade para a solidão» — talvez estivesse a pensar no Príncipe de Salina, talvez não, mas foi a melhor parte do discurso.

Comentários

Maravilha, Cristina.
Seguindo a tua ideia, mais duas coisas no “Leopardo” que remetem para António Costa. Primeiro, a sequência incrível da chegada da família do príncipe a Donnafugata, cobertos de pó da estrada; parecem estátuas vivas ou lázaros acabados de desenterrar. O travelling na igreja, com a câmara a revelar os rostos “mortos” de cada elemento da família, parece uma foto de família do governo.
Segundo, o sobrinho do príncipe, Tancredi Falconeri, o aristocrata “rebelde” que fere um dos olhos em batalha e que anda uma parte do filme com uma faixa a tapar a ferida, como um António Costa mutilado e que só vê metade da realidade, mas que resiste.