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Vencidos da vida

Ataque de fúria, mais uma vez. Será possível deixar passar os dias como eu faço? Há meses que não escrevo nada, nada, nada, nada! Irrito-me como uma puta sem clientes, barafusto contra tudo e amaldiçoo-me! Ou então consolo-me pela minha esterilidade e pelos meus fracassos, entregando-me a essa voluptuosidade de saber que já não existo para ninguém. Como se tivesse existido! Invento este esquecimento que, falso ou real, me dá uma amargura apaziguadora. Não existir mais para ninguém! Mas toda a gente, cedo ou tarde chega lá, inevitavelmente. É a grande consolação dos vencidos. 
Uma miséria da qual não consegui livrar-me: a doçura da autocomiseração. 
Esta manhã reflecti de novo nas possibilidades que o suicídio oferece. E depressa superei o meu acesso de fúria. 
Devíamos gravar no frontispício das câmaras municipais e das igrejas: Todos nós somos vencidos
É mais fácil viver com esta divisa do que com falsos boletins de vitória.


Emil Cioran, Cadernos 1957-1972  

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