Estava muito predisposta ao filme japonês do Wim Wenders e algumas críticas eram tão arrebatadoras (tirando o Eurico de Barros que escreve como se fosse a irmã de Hirayama) que me meti no carro para enfrentar o trânsito natalício. Fiquei um bocado desanimada porque Dias Perfeitos pareceu-me apenas um filme simpático que nos mostra as deslumbrantes casas de banho públicas de Tóquio (a maior parte delas irritariam o sombrio Tanizaki) e um tipo que vive como se fosse um gato. Kōji Yakusho é um belíssimo actor que fala pouco ou em voz baixa e o filme aguenta-se graças a ele e às paisagens, mas falta qualquer coisa.
Também fiquei admirada porque todos os textos que li referiam a felicidade dos pequenos gestos do dia a dia à semelhança da canção do Lou Reed, mas o filme tem uma carga simétrica de tristeza. Ninguém a vê? Uma das pistas talvez seja o que a livreira (ela conhece todos os livros que vende? caramba, que mulher notável!) diz sobre Patrícia Highsmith, sobre a diferença entre ansiedade e medo. E também a história que Nico lê (The Terrapin é terrível) e a faz identificar-se com Victor. Não é só a miúda que foge de casa, Hirayama anda há muito tempo a fugir. Até fugiu ao próprio Wenders.
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