A conferência de Bernard Eisenschitz foi interessante e inspiradora. A ideia de fazer um apanhado de pequenas histórias (anedotas, no sentido das de Kleist) sobre os filmes de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub é óptima porque consegue projectar na obra que os dois construíram (filmes simples, difíceis de fazer) um segundo vento que dá prazer e faz sorrir — e tudo que contraria a idolatria no amor é revigorante.
A própria conferência deu origem a duas anedotas. Os problemas na passagem de excertos de som e imagens (parecia que estávamos numa colectividade sem equipamentos) foi, obviamente, a piscadela de olho habitual a Tati (já tinha apanhado o barulhinho das sapatilhas do fotógrafo sobre o chão de mármore do átrio).
A outra é de ordem textual: na sua intervenção, Bernard Eisenschitz utilizou várias vezes a palavra comunista e até citou o elogio de Brecht (tantas vezes usado por Straub) que explica que o comunismo é a coisa mais simples que há e a mais difícil de executar (Er ist das Einfache / Das schwer zu machen ist). Isto em Serralves — o museu da eterna burguesia do Porto, usurpadora até às tripas — e apesar de não ter sido dito em português, tem a potência de um manifesto, ainda mais irónico pois a senhora administradora, que nunca vi em nenhuma das sessões, estava sentada na primeira fila (in her casual dress code).
Comentários
Ahahahahahah. Maravilha.