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Na poltrona de orelhas

Nós julgamos que temos vinte anos e agimos de acordo com isso e temos na realidade mais de cinquenta e ficamos totalmente exaustos, pensei eu, procedemos connosco como com vinte anos e arruinamo-nos e procedemos também assim com todos os outros, como se tivéssemos vinte e temos cinquenta e na realidade já não aguentamos absolutamente nada, esquecemo-nos também de que temos uma doença, várias, muitas doenças juntas, as chamadas doenças mortais, com as quais temos de viver a maior parte do tempo, o que nós, porém, ignoramos, julgando a maior parte do tempo que não é verdade, quando afinal elas aí estão sempre, permanentemente, toda a vida e um dia nos matam, procedemos connosco como se ainda tivéssemos as mesmas forças que tínhamos há trinta anos, quando nem sequer já temos uma fracção dessas forças de há trinta anos, nada dessas forças já nos resta, pensei eu na poltrona de orelhas.

Derrubar árvores — uma irritação, de Thomas Bernhard. (Maravilhosa) tradução de José A. Palma Caetano. Assírio & Alvim. outubro de 2017

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