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Uma máquina em movimento


Cristina Fernandes: Num possível alinhamento dos seus filmes, Regina Guimarães e Saguenail apontaram um bloco a que deram o nome de Casas Ruas Cidades. É uma das formas mais convidativas para entrar na obra destes dois cineastas. Tem qualquer coisa de passagem arquitectónica e, sem dúvida, sempre, de político, no sentido grego da palavra. A sequência marca o percurso destes dois extravagantes-livres que trabalham juntos e com cumplicidade há anos, principalmente no Porto. (...)



Rui Manuel Amaral: (...) Quando penso na obra de Regina Guimarães e Saguenail ocorre-me justamente a imagem de uma máquina em movimento. Uma estranha máquina de filmar-escrever tomada por essa «espécie de febre». Com paragens em cada filme e em cada livro, mas paragens breves porque há sempre mais caminho a fazer. Uma máquina em «Movimento Perpétuo», para usar o título de um poema do Caderno do Regresso (2010).

E aqui retomo a ideia do jogo de espelhos entre cinema e poesia. A máquina Regina-Saguenail não é só cinema, não é apenas poesia. Os espelhos ampliam, deformam, acrescentam, multiplicam o mundo. Através dos espelhos de Europa Parte Nenhuma, a poesia revela-se cinema e o cinema revela-se outra coisa. Pintura, sim. E tudo o que quisermos imaginar. Nada neste filme está fechado. As maçãs não são apenas maçãs, o pão não é só pão. Tudo se expande para «parte nenhuma», isto é, avança para toda a parte, livre em último grau. Apetece citar uma passagem de Mudas Mudanças (1980): «Que fazer, quando tudo se torna possível?»


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