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Variações sobre um tema ou — Babylone, à nous deux !




À primeira vista, traduzir não tem nada a ver com representação teatral. A tradutora está metida no seu quarto, sozinha, horas a fio, enquanto a actriz se move em cima de um palco iluminado a falar para o público. 

Mas depois de contornarmos essas pequenas evidências, podemos muito bem afastarmo-nos a correr, movidas por ideias caprichosas, e então começamos a perceber que traduzir e representar podem ser — são mesmo — movimentos afins. 

Afinal, a tradutora não está fechada num quarto, já saiu pela janela e vai para todo o lado atrás das ideias e das palavras impressas. Interpreta o texto e o autor; ensaia os seus gestos até o movimento sair automaticamente, sem pensamentos analíticos — até as palavras e as frases encontrarem um ritmo instintivo: uma coisa nova. E agora é como se estivesse em cima de um palco iluminado com uma luz escura a representar para uma audiência de espectros. É mais ou menos o que fazem Bulle e Pascale em A Ponte do Norte

Comentários

Alexandra disse…
Por coincidência, no fim do Julho, estive num colóquio organizado pela Renata Portas em que explorei alguns pontos em comum entre os actores e os tradutores. E salientei que é estranho que se peça aos tradutores para se apagarem e/ou que algumas pessoas apaguem os tradutores, quando é claro os actores, que fazem coisas parecidas, têm de estar bem visíveis num palco para trabalharem.
c disse…
Noutro dia, quando fui a Braga, a Carolina e o Luís falaram-me desse colóquio. Gostava de ter ido, mas não soube a tempo (não ter redes sociais, dá nisto).

Abusei um bocadinho do teu texto, quer dizer peguei naquela frase e desviei-a, mas foi para chegar a ideias que me passaste sobre tradução e que são importantes.

Entretanto, o livro da Deborah já chegou. O título em português é muito bonito (mais do que o inglês), a preposição dá-lhe uma certa melancolia.