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O matadouro



1. O encontro de Thursday com Cochise em Fort Apache é brutal — não só pelo massacre consequente, mas também pelas ressonâncias políticas que ainda hoje provoca. Tudo o que o chefe apache reclama ao tenente-coronel é justo e devido. Em oposição, o comportamento dos americanos é infame: em vez de ouvir e respeitar o acordado, Thursday menospreza os conselhos de York e as reivindicações de Cochise e ataca (aliás, já tinha decidido isso na véspera). Como é fácil de prever, a desproporção dos americanos e a colocação estratégica dos índios transforma o confronto numa carnificina. 

2. O capitão Kirby York foi sempre contra esta estratégia, mas no fim, perante os jornalistas, mente e glorifica o impiedoso tenente-coronel. Straub pergunta: Como pode a história oficial ser o tapete sob o qual escondemos as falhas de uma nação; e a democracia, o tecido com que os bárbaros se vestem de respeitabilidade? 

Essa última cena é terrivelmente amarga (e se a juntarmos ao final d’O homem que matou Liberty Valance ainda se agudiza mais), porque vemos John Wayne a ceder ao sistema; até o modo como se move é diferente, perdeu a mobilidade (a maravilhosa arte de mexer a bacia). Agora é um homem tenso e preso à História escrita pelos vencedores. Quando olha pela janela para a cavalaria, sentimos que estão a partir de novo para o matadouro Straub de novo e sempre.

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