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Shakespeare, Macbeth, V, 1

Médico: Vede, tem os olhos abertos. 
Aia: Sim, mas a visão fechada.
(Tradução de João Paulo Esteves da Silva.)

Médico: Vede, tem os olhos abertos. 
Dama: Sim, mas os sentidos estão dormentes.

Comentários

c disse…
O Daniel Jonas é um mágico!
boa noite disse…
Pois eu não acho! Perder assim o jogo entre aberto e fechado!! É gratuito, e eu diria que é simplesmente errado. Uma tradução errada.
boa noite disse…
perdão pelo tom, saiu mais agressivo do que eu pretendia :) O que dormente me lembra é uma perna dormente. E isso não vai com "os olhos abertos", trata-se de coisas sem relação.
c disse…
Gosto da expressão «sentidos dormentes», tem uma carga de sono que me agrada.

Mas percebo que o gesto do Daniel Jonas é extravagante, até mesmo polémico.

Eu não conseguiria traduzir desse modo, seria qualquer coisa como «sentido fechado» ou «espírito fechado». No entanto, vá-se lá saber porquê, admiro certos tradutores que se desviam da fidelidade. Gosto de um mundo que diverge de mim (não em tudo).
c disse…
Já agora, o que é uma tradução certa?
boa noite disse…
é uma ideia interessante, um gracejo... penso sobretudo que é uma intromissão. Fora que ele abandona todo o ritmo, no original uma fala responde à outra como numa comédia do Hawks...
"Se intervém, se ousa misturar-se voluntariamente no que deve traduzir introduz a sua pequenez. A obra é inferior. — Para si, o artista seria então inferior à natureza? — Não, não disse nada disso. A arte é uma harmonia paralela à natureza, se o pintor não se intrometer voluntariamente, compreenda-me bem. Toda a sua vontade, deve ser silêncio." (Conheces o resto :)
boa noite disse…
a violência de "shut", que ainda está lá, um pouco, em "fechada", desaparece completamente em "dormentes"
Anónimo disse…
vejo agora que fiz uma pequena bagunça nas respostas... não faz mal. mas não quis dizer que "uma tradução certa" é "uma ideia interessante, um gracejo, uma intromissão"!
c disse…
Percebi o teu ponto de vista e tens razão, claro. A minha parte racional está do teu lado, mas tenho outra parte que gosta de seguir caminhos mais irregulares e já reparei que, com a idade, gosto de lhe dar trela.

A pergunta que fiz é uma tontice. Mal a acabei de escrever desatei a rir porque só se pode responder pela negativa e só merece uma lapalissada: uma tradução certa é uma tradução que não é errada.
boa noite disse…
a propósito, o trecho do Desnos é incrível... É por isso que o Stroheim tinha que ter filmado A montanha mágica
c disse…
É daqui («CINÉMA D’AVANT-GARDE», páginas 188-191):

https://archive.org/details/lesrayonsetlesom0000desn/page/188/mode/2up
Boa noite disse…
obrigado. conheces Meschonnic? Eu não conhecia. Li um de seus livros semana passada, Ethique et politique du traduire, e recomendo-o fortemente
c disse…
Não conheço. Obrigada, vai para a lista.

(Mas não dou vazão. A lista do que tenho para ler e ver é enorme, é um verdadeiro monstro :D )