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«A família do cinema»


Quando se fala da família de actores de Ford, não é bem no sentido literal, de sangue; trata-se um conjunto de actores queridos ao cineasta que passam de filme para filme e transportam um fascínio que se poderia classificar de metacinematográfico. Como John Ford é avesso a esses conceitos académicos, talvez seja mais justo dizer que é uma comunidade (com tantos irlandeses à mistura!) que, após uma breve cisma e alguma insistência, nos abre a porta, aperta-nos a mão e oferece-nos um copo. Por um momento (graça das graças), o espaço entre dentro e fora do filme anula-se, estamos todos no mesmo plano, somos todos espíritos de carne e osso.

Mas na sequência no bar d' O Homem Tranquilo em que Sean ganha a confiança da gente de Innisfree quando esclarece quem é, quem foi o seu pai e, acima de tudo, quem foi o seu avô (his grandfather over grand man he was, was hung in Australia)— a família é mesmo família. O velho que o ouve é Francis Ford, o irmão mais velho que o levou para o cinema e que atravessa os seus filmes principalmente em papéis meio destravados meio bêbados e lá mais para o fim deste filme irlandês há-de levantar-se da cama e vencer a morte (dava para escrever um calhamaço superlativo sobre a morte nos filmes de John Ford). Seguindo o exemplo de Dan Tobin, quando todos perdem a desconfiança e aceitam a bebida para comemorar a compra da casa onde Sean nasceu, surge Ken Curtis, genro de Ford, a tocar acordeão e a cantar The Wild Colonial Boy

Sentimo-nos em casa — e não é só nesta cena, é em todos os filmes de Ford. 


Mas há mais familiares n’ O Homem Tranquilo: Arthur Shields é o irmão mais novo de Barry Fitzgerald e James O'Hara, de Maureen O'Hara. Os miúdos que estão com Mary Kate durante as corridas são filhos de John Wayne: Patrick, Antonia, Melinda e Michael. A personagem Sean Thornton baseia-se no boxer Martin Thornton, um primo afastado de Ford. (Informações recolhidas aqui)

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