Stagecoach (à esquerda), Bear and Rabbit, Castle Rock.
Stagecoach é um western antológico por várias razões: foi um dos primeiros filmes a ser rodado em Monument Valley; lançou John Wayne como estrela (aquele plano para a frente e com desfoque é uma espécie de foguete?); e muitos dos seus planos serão repetidos ao longo da história do cinema porque são cinematograficamente poderosos, e, acima de tudo, alimentam os mitos fundadores dos Estados Unidos.
Porém, o que mais me agrada no filme são duas coisas um pouco afastadas dos topos, mas mais importantes e regulares na obra conjunta de Ford. 1. A forma como as personagens secundárias (?) brilham, tornando-se inesquecíveis. Em cada plano que aparecem — Peabody, o bêbado e certeiro Doc Boone, o banqueiro golpista ou as velhas harpias que ficaram em Tonto, por exemplo — ganham uma materialidade espontânea que é como o vento nas árvores e nos incita também ao movimento*. 2. E ainda o modo como John Ford trabalha a oposição entre espaço interior e espaço exterior. Por um lado temos a paisagem aberta e selvagem de Monument Valley, e por outro, nove pessoas numa carruagem. O xerife e o condutor vão na bandeira e os outros sete lá dentro, num espaço tão exíguo que, quando entra, John Wayne tem de se sentar no chão. Enquanto avançam pela terra pedregosa, tentando escapar a um ataque iminente dos índios, as personagens estão, não só fechadas dentro da diligência, mas também presas dentro dos seus próprios problemas. Um confinamento total em pleno deserto. A nossa vida.
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