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Assumir os pressupostos da vida não fascista #3

M. D.: Foi tudo filmado entre Trappes e Plaisir, quer dizer, basicamente na capital da imigração em França. Não sei quantos são, talvez um milhão ou dois milhões nesta zona. Todos esses edifícios mortuários que vê foram construídos para eles, são os bancos de ensaio dos arquitectos de Paris. Os franceses fugiram deles. Devo dizer que os portugueses, nos primeiros tempos, também fugiram dos apartamentos que lhes destinámos, para voltarem às suas caravanas e aos seus bairros de lata, porque nos seus bairros de lata estavam juntos, à noite podiam comer juntos, reunirem-se. Havia uma verdadeira comunidade nos bairros de lata. Foi destruída. Foi substituída por esses blocos que vê no filme, esses fabulosos amontoados de alojamentos. Em vez de uma caravana, agora há entre sete e doze casas sobrepostas. Em Pequim é a mesma coisa, no México, em Madrid. Eu prefiro os bairros de lata, sem água, sem conforto, mesmo que faça muito calor, prefiro.



[Apresentação do livro no próximo sábado, dia 19, às 18h00, na Térmita. Com Eduardo Calheiros Figueiredo e Manuel Sá.]

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