Num texto sobre o ano de 2025, publicado no Público de ontem, Bárbara Reis descreve um impressionante episódio ocorrido em Julho, nos Estados Unidos: «A tia de uma aluna da Universidade de Idaho assassinada por um colega diz ao assassino, em tribunal, após a sentença de prisão perpétua, que o perdoou: “Bryan, estou aqui para dizer que te perdoei. Não conseguia continuar a viver com este ódio no meu coração. Para me tornar uma pessoa melhor, perdoei-te.” E acrescenta: “Sempre que quiseres conversar e contar-me o que aconteceu, pede o meu número de telefone. Estou aqui, sem julgamento.”»
Esta história é uma ilustração assombrosa da tese de Walter Benjamin sobre as personagens dos contos de fadas de Robert Walser: «Se quisermos resumir o que a um tempo têm de divertido e de terrível, podemos dizer: estão todos curados. É certo que jamais saberemos qual foi o processo da cura, a menos que ousemos debruçar-nos sobre a sua Branca de Neve.»
Ora, debrucemo-nos sobre Branca de Neve. O que é que acontece no conto de Walser? Como é que as personagens se «curam»? Como é que se libertam da loucura? A resposta parece ser: através do perdão. Branca de Neve perdoa a Rainha, sua mãe, pela maçã envenenada, pelo punhal do caçador, pelo seu ódio e ignomínia. Ela cura-se trocando o não pelo sim: «Estou cansada do não. Dizer sim faz muito bem e é muitíssimo doce.» Também a Rainha, no final do conto, se entrega ao mesmo «processo de cura»: «Houve luta, sim, mas já não há. O amor soube aqui vencer; o ódio, perante um amor tão forte, afundou-se.» E conclui: «O ódio fez-me pior a mim do que aos outros.»
Esta história é uma ilustração assombrosa da tese de Walter Benjamin sobre as personagens dos contos de fadas de Robert Walser: «Se quisermos resumir o que a um tempo têm de divertido e de terrível, podemos dizer: estão todos curados. É certo que jamais saberemos qual foi o processo da cura, a menos que ousemos debruçar-nos sobre a sua Branca de Neve.»
Ora, debrucemo-nos sobre Branca de Neve. O que é que acontece no conto de Walser? Como é que as personagens se «curam»? Como é que se libertam da loucura? A resposta parece ser: através do perdão. Branca de Neve perdoa a Rainha, sua mãe, pela maçã envenenada, pelo punhal do caçador, pelo seu ódio e ignomínia. Ela cura-se trocando o não pelo sim: «Estou cansada do não. Dizer sim faz muito bem e é muitíssimo doce.» Também a Rainha, no final do conto, se entrega ao mesmo «processo de cura»: «Houve luta, sim, mas já não há. O amor soube aqui vencer; o ódio, perante um amor tão forte, afundou-se.» E conclui: «O ódio fez-me pior a mim do que aos outros.»
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