Avançar para o conteúdo principal

Uma cena de «A romancista e o seu filme»

Kim Junhee e Kilsoo estão a comer num restaurante sentadas junto a uma janela. Passa uma miúda na rua e fica a olhar, intrigada, vai embora, regressa. Kilsoo sai para conversar com ela. Kim Junhee aproveita  para tirar um bocado de comida da tigela de Kilsoo. 

Se gosto tanto desta cena é porque acho que nada daquilo estava previsto: a miúda passou por ali por acaso e foi atraída pelas mulheres e pela câmara; Kim Min-he decidiu ir falar com ela e contar-lhe o que estavam a fazer para a convencer a sair do centro do enquadramento; e Lee Hye-yeong não resistiu a provar o bibimbap da Kim Min-he sem ela ver. 

Este encadeado de acções não foi escrito por Hong Sang-soo. As três implicadas agiram por conta própria. Não foi preciso insuflar nada para tudo ter, não um significado, mas uma presença real. O cinema de Hong Sang-soo é cada vez mais isto, ah, o vento nas árvores.

Comentários

Boa moite disse…
Ou, como escreveu o Biette, a borboleta que passa no quadro
c disse…
Sim. Encontrei o texto sobre o Raio verde — é muito bonito e concordo com ele.

«Dans le recueil de mes chroniques des Cahiers, Poétique des auteurs (Cahiers du cinéma, 1988), il y a un article que j’ai intitulé Le Papillon de Griffith, à propos du Rayon vert de Rohmer. C’est un cinéma dans lequel le passage d’un papillon dans un plan appartient à la nature du plan et renforce l’impression de réalité. Beaucoup de cinéastes attendraient que le papillon passe pour faire jouer les acteurs, parce qu’ils considèrent que le papillon distrairait le spectateur de l’action dramatique. Alors que chez Rohmer, tout demande que le plan soit habité par les choses de la réalité. Chez Resnais, Sternberg ou Visconti, un papillon ne peut pas passer. Chez Kubrick non plus, interdit de papillon ! Chez les Straub, Ford, Walsh, Naruse ou Rivette, le papillon peut passer. Le papillon ne peut passer que chez les cinéastes où il y a de la contemplation du monde.»

Nesta lista, Biette esqueceu-se de Renoir, mas fala dele no texto.

Sim, acho que podemos acrescentar Hong Sang-soo e talvez também Jonás Trueba (ainda só vi um filme dele, mas pareceu-me ter uma deliciosa influência de Renoir).
c disse…
Infelizmente, conheço muito mal Biette.
Boa noite disse…
Mas já viu os filmes no site da cinemateca francesa? Se não viu, veja-os! Eles estão esperando!
Eu mesmo também não conheço muito mais do que isso (esse filme que elogia o JLG aí embaixo é também muito bonito, visto numa dessas cópias VHS que aparecem pela internet). Os outros filmes ainda aparecerão e ainda hei de vê-los

https://www.cinematheque.fr/henri/

https://twitter.com/ktdbrgl/status/1324645501740834816?t=-mBfKpKfE5NufVwgnaT_qQ&s=19