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Heinrich von Kleist

Cioran tem uma pancada por Kleist (é fácil de perceber porquê); escreve muitas vezes sobre ele nos Cadernos. Ainda vou em 1964 e já traduzi três notas (até ao final há mais quatro): 

Tento reler Faust, depois de mais de trinta anos. Sempre a mesma impossibilidade: não entro no mundo de Goethe. Só gosto de escritores doentes, afectados de uma forma ou de outra. Para mim, Goethe continua frio e rígido, alguém a quem não pensamos recorrer num momento de aflição. Não é dele, é de um Kleist que nos sentimos mais próximos. Uma vida sem fracassos consideráveis, misteriosos ou suspeitos pouco nos seduz. 

Nos últimos dias tenho lido os contos de Kleist. São belos; mas é o seu suicídio que lhes dá uma dimensão que de outro modo não teriam. Porque é impossível ler uma linha de Kleist sem pensar que ele se matou. O seu Freitod (suicídio) confunde-se com a sua vida, como se se tivesse suicidado o tempo todo. 

Ontem li Heinrich von Kleists Lebenspuren — um livro que contém todos os documentos que possuímos sobre a sua vida, sobre a sua vida constantemente transfigurada pelo fracasso.

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