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A morte dos avarentos

Um avarento jazia mui mal enfermo pera morte.
Este homem havia muitas riquezas e nunca se aproveitava delas nem tanto a Deus, nem quanto ao mundo, nem pera seu corpo. E jazendo assim chegado à morte, sua mulher entendendo que não havia em ele vida, chamou uma sua servente e disse-lhe:

— Vai tostemente e compra três varas de burel pera envolvermos meu marido em que o soterrem.

E disse-lhe a servente:

— Senhora, vos havedes uma grande teia de pano de linho, dade-lhe quatro ou cinco varas ou aquilo que lhe avondar em que o soterrem.

E a senhora disse-lhe queixosamente:

— Vai faze o que te mando, ca bem lhe avondaram três varas de burel, segunda eu sei a sua condição e a sua vontade.

E estando em isto falando a dona e a servente, ouviu isto aquele homem avarento, e esforçou-se quanto pôde pera falar e disse:

— Não comprade mais que três varas de burel, e fazede-me o saco curto.
(...)

Citado por Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português, Vol. 2.

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