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Procurar às escuras

E aquilo sobre o qual não devemos deixar de reflectir é a necessidade de religião que a situação faz surgir. É indício de tal, no discurso insistente dos media, a terminologia tomada de empréstimo ao vocabulário escatológico que, para descrever o fenómeno, usa obsessivamente, sobretudo na imprensa americana, a palavra «apocalipse» e invoca, explicitamente, o fim do mundo. É como se a necessidade religiosa, que a Igreja já não está em condições de satisfazer, procurasse às escuras um outro lugar de consistência e o encontrasse naquilo que é, de facto, a religião do nosso tempo: a ciência.

Esta, como qualquer religião, pode produzir superstição e medo ou, em qualquer caso, ser usada para disseminá-los. Nunca como hoje se assistiu ao espectáculo, típico das religiões nos momentos de crise, de opiniões e prescrições diferentes e contraditórias, que vão desde a posição minoritária herética (também representada por cientistas de prestígio) daqueles que negam a seriedade do fenómeno até ao discurso ortodoxo dominante que o afirma e, no entanto, diverge radicalmente na forma de lidar com ele.

Giorgio Agamben.
Texto completo no site da revista Punkto.

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