É uma história que parece inventada, mas não é. Houve um ano em que os narradores entraram em greve. Todos os narradores: homodiegéticos, heterodiegéticos, autodiegéticos e mais as suas subcategorias (sigo aqui a terminologia de Gérard Genette, também usada por Ann Rigney). A greve não visava nenhum objectivo, digamos, político. Os narradores apenas estavam cansados da literatura. Cansados de contar histórias que pertenciam a outros. Reivindicavam o direito à ausência, ao silêncio e ao esquecimento. E, assim, muito simplesmente, decidiram evaporar-se. E, de facto, evaporaram-se. Ora, ninguém estava preparado para uma situação daquelas. O fenómeno desafiava a análise segundo qualquer fórmula de compêndio e foi descrita pelo grande William Tovey como sendo de uma gravidade sem paralelo na literatura anterior ou posterior (estou a citar sem aspas). Milhares e milhares de histórias, e nem um só narrador para as contar. Nesse ano, muitos livros ficaram por terminar. Os editores, que norma