Vi o recente fracasso dum rapaz daqui [das Caldas da Rainha], e não dos piores, que expôs uma série de quadros numa galeria, a Tertúlia, que tu já conheces. E depois, foi muito sossegadamente para a tasca, como de hábito, ao que parecia convencido que ia haver comboios especiais para encher as Caldas de marchands, de mirones, de visitantes. E já estava a fazer as contas ao dinheiro que ganharia, etc. Eu, que sou amigo dele e gosto do que ele pinta, passei até às seis da manhã a pendurar quadros, limpar aqui e ali, dar sugestões, etc. Sinceramente convencido do êxito dele ou pelo menos da justiça do êxito. Ou, pelo menos: que estava a colaborar em algo que não fosse apenas comer a couve na panela e beber copinho. Uma coisa válida em si, por si e pelo gozo que me dava participar nela, sequer na função de moço de fretes. Pois bem: não foi ninguém à exposição, apesar da propaganda que eu ainda fiz, no Letras e Artes e pelos cafés das Caldas. O rapaz arrepelou-se: fala agora em queimar toda a sua obra.
Carta de Luiz Pacheco para António José Forte (15.11.1965)
Pacheco versus Cesariny.
Carta de Luiz Pacheco para António José Forte (15.11.1965)
Pacheco versus Cesariny.
Comentários
imagino na época, e com "malucos", como o grande Pacheco.