Wilbert Frederick tinha um plano para acabar com o mundo. Um plano diabólico e terrivelmente eficaz. Dizer que ele fervia de entusiasmo com a ideia, como se estivesse possuído por mil demónios enegrecidos, é pouco. Pela primeira vez na vida, sentia-se feliz. Uma felicidade que se adivinhava pelas gargalhadinhas maldosas e frases ameaçadoras, debitadas de enfiada sem pontos nem vírgulas.
Ora, antes de pôr a coisa em marcha, e como é usual em tais ocasiões, Wilbert Frederick guardou o plano num cofre. Um cofre secreto e inviolável, cuidadosamente fechado com uma chave também ela inviolável e secreta. Depois, esfregando as mãos como um actor de teatro, saiu de casa para beber uma cerveja.
Pois bem, por alguma manobra do destino difícil de explicar, perdeu a chave no caminho. E apesar de todos os esforços para a recuperar, esta nunca mais apareceu e o cofre não mais foi aberto. Wilbert mergulhou então no mais horrível desespero, enredando-se num discurso alucinado, em que infância e erva-cidreira, pimpampum e peixes voadores se combinavam entre si, sem limites de tempo ou espaço, enquanto se lhe revirava o branco dos olhos e uma espessa espuma lhe pingava da boca.
E eis aqui como o mundo foi salvo, em circunstâncias pouco brilhantes, pelo mais puro dos acasos. Talvez o leitor estivesse à espera de um final um pouco mais espectacular. Compreendo perfeitamente. Mas o meu trabalho consiste em relatar a verdade e não em falsear ou apimentar os factos.
Publicado na página dos Cronistas do Bairro, Porto24.
Ora, antes de pôr a coisa em marcha, e como é usual em tais ocasiões, Wilbert Frederick guardou o plano num cofre. Um cofre secreto e inviolável, cuidadosamente fechado com uma chave também ela inviolável e secreta. Depois, esfregando as mãos como um actor de teatro, saiu de casa para beber uma cerveja.
Pois bem, por alguma manobra do destino difícil de explicar, perdeu a chave no caminho. E apesar de todos os esforços para a recuperar, esta nunca mais apareceu e o cofre não mais foi aberto. Wilbert mergulhou então no mais horrível desespero, enredando-se num discurso alucinado, em que infância e erva-cidreira, pimpampum e peixes voadores se combinavam entre si, sem limites de tempo ou espaço, enquanto se lhe revirava o branco dos olhos e uma espessa espuma lhe pingava da boca.
E eis aqui como o mundo foi salvo, em circunstâncias pouco brilhantes, pelo mais puro dos acasos. Talvez o leitor estivesse à espera de um final um pouco mais espectacular. Compreendo perfeitamente. Mas o meu trabalho consiste em relatar a verdade e não em falsear ou apimentar os factos.
Publicado na página dos Cronistas do Bairro, Porto24.
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