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O prazer do tabaco

Georgine Ulyanov, cuja beleza oferecia atractivos que nunca cansavam. Georgine Ulyanov, cujos longos caracóis de ouro caíam em cascata sobre os ombros mais bem modelados que a natureza tem produzido nas suas horas de perfeição. Georgine Ulyanov, cuja nobre face resplandecia com a brancura da flor-de-lis e o vermelho das rosas.
Georgine Ulyanov, cujos olhos lembravam os de um falcão solitário, pairando cada vez mais alto. Georgine Ulyanov, cuja boca miúda parecia ter por lábios dois admiráveis rubis. Georgine Ulyanov, cujo narizinho de fina pele valia um poema. Georgine Ulyanov, cujo perfume, oh, senhores – como direi? – punha a imaginação dos cronistas em lufa-lufa.
Georgine Ulyanov, que era uma clássica adepta – e peço desculpa pela locução pomposa, mas expressiva – do dolce far niente. Georgine Ulyanov que aparecia todas as manhãs na mais festiva disposição de espírito. Georgine Ulyanov por quem se tinham suicidado oito cavalheiros, talvez dez.
Georgine Ulyanov, que era de uma inexcedível habilidade para dar cabo do dinheiro. Georgine Ulyanov, que possuía um aristocrático narcisismo e que quando falava com um certo desprezo fazia-o numa terrível e insuportável voz de falsete. Georgine Ulyanov, que mentia descaradamente e provocava toda a espécie de tropelias.
Georgine Ulyanov, que contava tudo o que sabia, mal as coisas aconteciam e, por vezes, até mesmo antes delas acontecerem. Georgine Ulyanov, que era um monstro de vida corrupta e costumes deploráveis. Georgine Ulyanov, que era uma tratante, falsária e facínora.
Georgine Ulyanov (estou farto de escrever este nome), que mais tarde decidiu mudar de nome e tomou o de Fulberta Schwanzkopf, tirou da carteira o tabaco, acendeu um cigarro e fumou-o demoradamente.

Publicado no Porto24, página dos Cronistas do Bairro.

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