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A senhora, finalmente, conseguiu ler tudo

James Supravielle de Vasconcelos, escritor, estava, claro, a escrever. Um livro. Sobre a mãe. Cada página que escrevia passava-a à mãe que a lia com muito gosto. Volta e meia, dizia ela:
- Estou morta por ver este livro em letra de forma, para o ler como deve ser.
O livro foi, finalmente, publicado. O escritor levou à mãe a obrinha, um esmero.
- Filho, como queres que leia este calhamaço? São 400 páginas, e eu tenho 75 anos.
James Supravielle de Vasconcelos ficou desconsolado. Mas não por muito tempo. Lançou-se ao trabalho e conseguiu reduzir o calhamaço a umas ainda assim imponentes 150 páginas, que publicou.
A mãe começou a ler o resumo. Por pouco tempo: um dia depois, queixava-se: 

- Filho, já não tenho idade para tanta literatura, estou com 78 anos. Fiquei cansadíssima só com o prefácio. Faz lá outro resumo. 
E ele assim fez. Finalmente, tinha dez páginas condensadíssimas. Feita a respectiva plaquete, levou-a à mãe, no dia do seu octogésimo aniversário. A senhora, finalmente, conseguiu ler tudo, mas comentou: 
- Deitei a tua plaquete fora. São só dez páginas. Aquilo não tinha nada a ver comigo, podia ser dito a propósito de qualquer mulher.

Manuel Resende.

Comentários

Luis Eme disse…
É sempre complicado agradar às nossa mãezinhas.:)