Existe um princípio elementar no marketing que afirma o seguinte: um produto deve «prometer» mais do que aquilo para o qual foi feito, deve proporcionar uma «experiência». Quer dizer, se um consumidor acreditar que ao comprar um gel de duche está a comprar, sobretudo, uma maneira nova e mais excitante de tomar banho, o marketing e a publicidade foram eficazes. Ao assistir a muito do teatro que se faz hoje entre nós, fico com a sensação de que uma boa parte dos criadores acompanha este princípio de proporcionar uma «experiência» ao público. Claro que o teatro é, por definição, uma «experiência». Mas que «experiência»? Parece-me que vivemos um momento em que se recorre a todos os truques - bons e maus - para transformar qualquer peça de teatro numa «experiência espectacular». Por vezes, parece que a relevância de uma peça se mede pela intensidade das gargalhadas e dos aplausos do público, como num programa de televisão emitido em prime time, mesmo que a peça seja o mais ibseniano dos dramas. Compreendo a angústia dos criadores: o mercado é a mais perversa das ditaduras. A sempiterna necessidade de «chamar público ao teatro» explica toda a espécie de artifícios e truques. Mas essa necessidade justifica ou legitima todos os truques? Shakespeare será mais compreensível e estará mais próximo de nós se, por exemplo, se utilizarem referências que encontramos no teatro de revista? Timão de Atenas será mais amado pelos amigos se lhes oferecer sem critério ouro, jóias, festas e cavalos? Todos sabemos como a história acaba: Timão morre desiludido, arruinado, sem amigos e a amaldiçoar a humanidade. Se o teatro deixar de bajular o público com ouro, jóias e festas, o público abandoná-lo-á?
TIMÃO
(...) Quem ousará, quem ousará erguer-se da sua alma, e dizer: Este homem é um lisonjeador? Ora se um o é, todos os são, pois cada grau de fortuna é adulado pelo que lhe é inferior. A cabeça do douto baixa-se perante o tolo dourado: tudo é oblíquo; nada está a nível da nossa maldita natureza senão a infâmia manifesta. Portanto, festas, reuniões e turbas de homens, sede todas malditas! (...)
Shakespeare, Timão de Atenas. Tradução de Henrique Braga.
TIMÃO
(...) Quem ousará, quem ousará erguer-se da sua alma, e dizer: Este homem é um lisonjeador? Ora se um o é, todos os são, pois cada grau de fortuna é adulado pelo que lhe é inferior. A cabeça do douto baixa-se perante o tolo dourado: tudo é oblíquo; nada está a nível da nossa maldita natureza senão a infâmia manifesta. Portanto, festas, reuniões e turbas de homens, sede todas malditas! (...)
Comentários
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*Mulher; Flores e Borboletas, em sintonia poética (Poetizando) *
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