Subindo a Acrópole, há um número incontável de turistas a fotografarem-se a si mesmos. Uma, duas, dez, cem vezes. Em cada lanço de caminho, junto de cada pedra, à frente e atrás de cada coluna, em cada metro quadrado do Pártenon. O mesmo plano do rosto, uma e outra vez. Não é a acrópole que visitamos, mas a nós mesmos. Ou melhor, o nosso rosto moderno, inchado e orgulhoso. Uma máscara sem sombra de tragédia ou comédia, morta, anémica como alabastro, sem mistério, espírito ou emoção. Nenhum de nós precisa de percorrer as ruínas e sentir-se assaltado pelo fantasma da história, o que precisamos é de um telemóvel com uma câmara melhor. Entre nós e os escravos que carregaram estas pedras colossais, há apenas uma diferença de pixéis.
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No regresso, num dos flancos da Acrópole, inclino-me para colher do chão a folhinha de uma oliveira. Guardo-a entre as páginas de um livro. A relíquia viva da idade dos heróis, dos titãs e dos deuses.
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Numa das salas do museu, estão expostas as cabeças dos velhos professores do gymnasion. Há algo de sinistro e sublime nesta estranha procissão de cabeças decepadas pelo tempo. Os rostos parecem fitar-nos com um olhar vivo e animado por um fogo secreto. Dir-se-ia que, de algum modo misterioso, os seus sonhos ficaram encerrados, intactos e inviolados, nos crânios de mármore, e que a qualquer momento vão irromper de novo para assombrar o mundo com a sua louca e luminosa sabedoria.
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Lembro-me da grande vaga de frio descrita por Virginia Woolf, no Orlando. Durante um longo e terrível Inverno, nos primeiros anos do século XVII, o tempo parou em Londres, suspenso sob o gelo. Coisas e pessoas transformaram-se em pedras. Que grande vaga de frio atingiu os gregos?
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As estátuas. Umas sem cabeça, outras sem braços, outras ainda sem pernas, algumas com membros falsos, criados pelos arqueólogos, como próteses ortopédicas. Mulheres, homens, crianças, heróis, deuses, enterrados vivos nos museus, numa espécie de estado de suspensão ou de congelamento. A verdade firmada em pedra.
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Não há nada mais ténue do que a fina película da história, da cultura e do “progresso”. Não há nada mais parecido com um humano do que outro humano. Deste e do outro lado do mundo, de hoje ou de há vinte e cinco séculos.
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No regresso, num dos flancos da Acrópole, inclino-me para colher do chão a folhinha de uma oliveira. Guardo-a entre as páginas de um livro. A relíquia viva da idade dos heróis, dos titãs e dos deuses.
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Numa das salas do museu, estão expostas as cabeças dos velhos professores do gymnasion. Há algo de sinistro e sublime nesta estranha procissão de cabeças decepadas pelo tempo. Os rostos parecem fitar-nos com um olhar vivo e animado por um fogo secreto. Dir-se-ia que, de algum modo misterioso, os seus sonhos ficaram encerrados, intactos e inviolados, nos crânios de mármore, e que a qualquer momento vão irromper de novo para assombrar o mundo com a sua louca e luminosa sabedoria.
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Lembro-me da grande vaga de frio descrita por Virginia Woolf, no Orlando. Durante um longo e terrível Inverno, nos primeiros anos do século XVII, o tempo parou em Londres, suspenso sob o gelo. Coisas e pessoas transformaram-se em pedras. Que grande vaga de frio atingiu os gregos?
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As estátuas. Umas sem cabeça, outras sem braços, outras ainda sem pernas, algumas com membros falsos, criados pelos arqueólogos, como próteses ortopédicas. Mulheres, homens, crianças, heróis, deuses, enterrados vivos nos museus, numa espécie de estado de suspensão ou de congelamento. A verdade firmada em pedra.
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Não há nada mais ténue do que a fina película da história, da cultura e do “progresso”. Não há nada mais parecido com um humano do que outro humano. Deste e do outro lado do mundo, de hoje ou de há vinte e cinco séculos.
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