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Humano, demasiado humano.

Cioran já andava pelos setenta anos quando se apaixonou por uma jovem professora de filosofia. Friedgard Thoma escreveu-lhe uma carta elogiosa comparando-o a Büchner e Walser. Depois enviou-lhe uma fotografia. Começaram a trocar correspondência. Encontrei aqui parte da história e este excerto:  “Consigo gostaria de falar sobre Lenz na cama. Lástima que não viva sozinha e aqui perto. A alegria de a ter conhecido é uma prova e também um golpe. Gostaria de terminar com um aforismo irónico, mas não posso."

Não me interessa saber mais sobre o devaneio amoroso. Cioran entrou na filosofia pelo curral. Um afilhado de Dionísio que praticou a sátira e a ironia como poucos. Usou-as para defesa e ataque; em relação às coisas grandes, às coisas pequenas e a si mesmo. Custa-me vê-lo velho, incapaz de escrever um aforismo irónico quando mais precisava. Demasiado preso a si, sem qualquer ponto de fuga, sem riso, sem alívio. Como todos nós. Como Minetti com os atilhos das ceroulas desapertados. Pobre Cioran.

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