Há várias semanas que é impossível secar a roupa em casa. Pequenas multidões socorrem-se das lavandarias de bairro. Um a um, entregamos os lençóis ao olho redondo e guloso da máquina. Enquanto se espera, uns mergulham nos telemóveis. Outros abandonam-se aos rodeios da sonolenta telenovela que passa na televisão. Outros ainda fixam-se nas voltas que a roupa dá no tambor da máquina. E, de repente, numa espécie de estranha simetria, o pensamento também volteia entre o passado, o presente e o futuro, mas sem o programa certo, sem detergente e sem amaciador.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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