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Há três tipos de melancolia

Emil Cioran: (…) a música deve deixar-nos loucos, senão não vale nada.

Sylvie Jaudeau: Em suma, a música confronta-nos com este paradoxo: a eternidade presentida no tempo.

Emil Cioran: É de facto o absoluto apanhado no tempo, mas incapaz de aí permanecer, um contacto ao mesmo tempo supremo e fugitivo. Para que permanecesse, seria necessária uma emoção musical ininterrupta. A fragilidade do êxtase místico é idêntica. Nos dois casos, o mesmo sentimento de incompletude, acompanhado por um lamento dilacerante, uma nostalgia sem fim.

Sylvie Jaudeau: Essa nostalgia é precisamente a base da sua visão do mundo. Como é que a define?

Emil Cioran: Esse sentimento está ligado em parte às minhas origens romenas. Por lá, impregna toda a poesia popular. É um desgosto indefinível que em romeno se diz dor, próximo do Sehnsucht dos alemães, mas sobretudo da saudade dos portugueses.

Sylvie Jaudeau: Você escreveu: “Há três tipos de melancolia: russa, portuguesa e húngara."

Emil Cioran: O povo mais melancólico que conheço é o povo húngaro, a música cigana é suficiente para o comprovar. Brahms, na sua juventude, ficou fascinado por isso. Daí o charme insinuante da sua obra.

Entrevistas com Emil Cioran, Arcades, 1995.

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