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Ah, que lindo trio nós formamos!

O JUIZ: (Irritado.) Vais-me responder ou não? Que mais roubaste? Onde? Quando? Como? Quanto? Porquê? Para quê? - Responde.
(...)
A LADRA: Peço perdão, mas já não me lembro.
O CARRASCO: Arreio nela?
O JUIZ: Ainda não. (Para A LADRA) Onde é que entraste? Diz-me, onde? Onde? Onde? Onde? Onde? Oonnn!... Oonnnn!... Oonnn!...
A LADRA: (Aflita.) Já não sei, juro que já não sei.
O CARRASCO: Arreio nela? Senhor Doutor Juiz, arreio nela?
O JUIZ: (Para O CARRASCO e aproximando-se dele.) Ah! Ah! O teu prazer depende de mim. Gostas de dar porrada, hem? Dou-te razão, Carrasco! Magistral monte de carne, ganda chicha que uma decisão minha acciona! (Finge olhar para si mesmo na pessoa do CARRASCO.) Espelho que me glorifica! Imagem que posso tocar, amo-te. Nunca teria a força nem a perícia suficientes para deixar riscas de fogo nas costas dela. Aliás, que poderia eu fazer de tanta força e perícia? (Toca nele.) Estás aí? Estás aí, meu braço enorme, demasiado pesado para mim, demasiado grosso, demasiado gordo para o meu ombro, e que a meu lado funciona sozinho! Braço de meia tonelada de carne, sem ti, braço, não seria nada... (Para a LADRA.) Sem ti, pequena, também não. Sois os meus dois complementos perfeitos... Ah, que lindo trio nós formamos! (Para a LADRA.) Mas tu, em relação a ele, tens um privilégio, em relação a mim também, aliás, o da anterioridade. O meu ser de juiz é uma emanação do teu ser de ladra. Bastaria tu recusares ser quem és - o que tu és, logo quem és - para eu deixar de ser... e desaparecer, evaporado. Rebentado. Volatilizado. Negado. Donde: o Bem oriundo do... Mas então... Mas então... Mas tu não vais recusar ser ladra, pois não? Seria ruim. Seria um crime. Privar-me-ias de ser! (Implorando.) Diz lá, pequena, meu amor, não vais recusar, pois não?

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