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E depois.


(...) Ou talvez a própria vida seja uma espécie de arte de má qualidade. Não tem enredo propriamente dito e os temas são arbitrários e confusos. Uma história vai decorrendo e depois é abandonada e depois as personagens reaparecem e depois morrem sem razão aparente e sem seguir uma ordem dramática particular. 
E temos tantas vozes interiores que nos dizem o que devemos pensar, o que devemos fazer, onde devemos ir. É como se houvesse demasiados argumentistas a trabalhar a noite inteira, como os autocarros vazios que circulam pela cidade durante a noite, sem passageiros. Como que em piloto automático. 
E depois, por baixo disso tudo, está o subconsciente. Sempre a tentar comunicar. Mas o problema é que não pode usar palavras. Não conhece nenhuma palavra. Por isso mostra-nos coisas. Vês este azul? O que é que te faz lembrar? E uma pessoa pode passar anos a tentar decifrar estas mensagens. 
E depois há os buracos da linguagem. Cá está um. Vou esconder-me aqui durante alguns minutos antes de continuarmos. “Espera”, disse eu. “Espera por mim. Pelo menos até ao Verão. Espera por mim, está bem?”(...)

Laurie Anderson, the end of the moon.

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