Gosto do campo — e vivo numa metrópole; detesto estilo e vigio as minhas frases; sou um céptico incorrigível — e leio principalmente os místicos ... e podia continuar assim indefinidamente.
Nota: O melhor deste aforismo é a conjunção usada para ligar as duas orações. Seria de esperar uma conjunção adversativa, mas Cioran escolhe uma conjunção aditiva — como Godard (não me lembro do link).
Emil Cioran, Cadernos 1957-1972
Comentários
E não me admirava que Cioran estivesse a brincar com os místicos.
A escrita de Cioran beneficia imenso destas leituras desbragadas e intensas. É isso que faz com que os seus livros sejam de filosofia mas também obras exemplares da língua francesa, portanto, da literatura. Quer ele queira, quer não (e geralmente Cioran nunca quer nada), é aí que o encontramos, a um milímetro da poesia.
E sim, Cioran lia com admiração extrema e desde muito novo (desde os Cárpatos) os místicos. Ele próprio sempre foi um místico mas, digamos assim: um místico relutante, um místico em perpétua negação.
para definir uma das fases da união com Deus, é o que um espírito definhado,
necessariamente invejoso, nunca perdoará a um místico."
Que prazer voltar a folhear este livro na tranquilidade de uma manhã de Domingo.
Como compreendo o seu interesse pela tradução sempre inesgotável de Cioran.
Obrigada, Cristina.