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Conjunção aditiva

Gosto do campo — e vivo numa metrópole; detesto estilo e vigio as minhas frases; sou um céptico incorrigível — e leio principalmente os místicos ... e podia continuar assim indefinidamente.

Emil Cioran, Cadernos 1957-1972

Nota: O melhor deste aforismo é a conjunção usada para ligar as duas orações. Seria de esperar uma conjunção adversativa, mas Cioran escolhe uma conjunção aditiva — como Godard (não me lembro do link).

Comentários

atalhos disse…
Poderia ter sido o Rui Manuel Amaral a escrever isto.
c disse…
Sim, acho que podia (é um aforismo magnífico). Só tenho dúvidas em relação aos místicos — o Rui ainda não meteu o pé nesse claustro :D
atalhos disse…
Era a minha dúvida, embora os escritores tenham alguns segredos.
E não me admirava que Cioran estivesse a brincar com os místicos.
c disse…
Para além de uns passeios e assim, as actividades de Cioran são ler, pensar e escrever. Ele é um grande leitor, curioso e apaixonado; lê e relê imenso e coisas diferentes: filosofia, muita poesia, romances, memórias, documentos históricos, vidas de santos, jornais e revistas, etc. etc.

A escrita de Cioran beneficia imenso destas leituras desbragadas e intensas. É isso que faz com que os seus livros sejam de filosofia mas também obras exemplares da língua francesa, portanto, da literatura. Quer ele queira, quer não (e geralmente Cioran nunca quer nada), é aí que o encontramos, a um milímetro da poesia.

E sim, Cioran lia com admiração extrema e desde muito novo (desde os Cárpatos) os místicos. Ele próprio sempre foi um místico mas, digamos assim: um místico relutante, um místico em perpétua negação.
atalhos disse…
*Do Inconveniente de ter nascido*: "Esse <>, de que fala Teresa de Ávila
para definir uma das fases da união com Deus, é o que um espírito definhado,
necessariamente invejoso, nunca perdoará a um místico."

Que prazer voltar a folhear este livro na tranquilidade de uma manhã de Domingo.
Como compreendo o seu interesse pela tradução sempre inesgotável de Cioran.
Obrigada, Cristina.
atalhos disse…
lá em cima, e não sei porque desapareceu misteriosamente, *glorioso delírio*