As nádegas de Héracles eram como um velho escudo de couro, enegrecidas pela longa exposição ao sol e pelo hálito ardente de Caco e do touro cretense. Quando Héracles capturou os dois escarninhos Cércopes, que vinham para o roubar e para lhe tirar o sono, disfarçados de importunos moscardos, depois de os ter obrigado a reassumir uma forma humana, pendurou-os pelos pés a uma trave e, como os seus pesos se equilibravam, colocou a trave sobre os seus ombros. A cabeça dos dois minúsculos patifes pendia à altura das nádegas possantes do herói, que a pele de leão deixava a descoberto. Então os Cércopes recordaram-se das palavras pressagas de sua mãe: «Meus pequenos Cus Brancos, tende cuidado com o momento em que vos encontrardes com o Cu Negro». Os dois ladrões pendurados foram sacudidos pelo riso, enquanto as nádegas do herói continuavam a subir e a descer na sua marcha segura. Enquanto ia andando, o herói sentia atrás de si aquele riso sufocado. Sentia-se triste. Nem as suas vítimas o levavam a sério. Colocou em terra os dois trocistas e desatou a rir com eles. Outros contam que os matou.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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