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Fundo e superfície

Na linha Porto-Gaia, pouco depois de São Bento, o metro irrompe inesperadamente do fundo para a superfície. Na verdade, o metro voa do túnel para a ponte e, num segundo, estamos a correr entre as nuvens.
Transposta a ponte, desvio de novo o olhar para o livro, e leio: «São tempos singulares, estes em que vivemos. Tempos em que grandes agitações de superfície conseguem fazer-se passar por reais transformações de fundo. (...) Os homens mudam, dir-se-á. Sem dúvida, e tanto mais facilmente quanto se lhes der a possibilidade de parecerem mudar. A ilusão da mudança poupa com efeito a muitos deles dilacerações cornelianas entre os interesses e as convicções. Tal como essas viagens que se empreendem sem uma pessoa sair de onde está sentada, deixando simplesmente que umas às outras se sucedam as paisagens móveis dum diorama...» (Georges Henein.)

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