Estão sentados num café fechado ao público*. Sangok diz ao realizador que os seus filmes parecem contos. Está a falar com Jaewon e também com Hong Sang-Soo. Aceito e gosto desta interpretação: a mancha de molho na blusa, por exemplo, tem a economia, o peso e a ambiguidade que existem nos melhores contos e nos fazem tremer — aquilo a que podemos chamar augúrios narrativos.
Mas a analogia que me parece mais justa é menos conceptual e mais orgânica; relaciona-se com a luz e as cores fortes do filme, com os movimentos livres das personagens (cenografia e coreografia) e apreendi-a há três anos num romance de Iris Murdoch (para continuar com os pés enterrados na literatura).
Assim, roubando as palavras finais de uma das personagens d’ O Sino, posso dizer que em Perante o teu rosto vi Sangok virar-se toda para a vida e para a felicidade, como uma planta robusta se vira para o sol, e assimilar tudo o que encontrava pelo caminho.
Que esta energia surja nos cinco ou seis meses (o tempo de rodar uma curta metragem?) que lhe restam de vida torna tudo muito intenso, mas de uma intensidade suave como é habitual nos filmes de Hong Sang-soo.
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Notas: Rever, logo que possível, Cleo de 5 à 7. Arranjar tempo para escrever sobre as roupas lânguidas e despreocupadas (mais um segmento Modas & Bordados) das personagens de Hong Sang-soo (para a Carolina). * Se em Apresentação há três abraços, em Perante o teu rosto há três cafés.
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