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Uma outra beleza




Sangok conta ao realizador que pensou matar-se quando tinha 17 anos e só não o fez porque viu clara e inesperadamente a beleza dos rostos das pessoas na praça junto à estação de Seul. — É uma definição perfeita de epifania.

No decorrer do filme há uma interpretação discreta dessa revelação quando a mulher que tira a fotografia reconhece Sangok e fica admirada com a sua beleza intacta. Também ela é tocada directamente no coração por qualquer coisa.

A cena entre a miúda e a amiga da mãe que a acolhe na Alemanha em Apresentação — em termos narrativos, muito diferente de Perante o teu rosto  — é semelhante.

Descobrir a beleza dos rostos dos outros, e assim atingir um pouco a essência da vida, é um grande feito. Mas, para que tal aconteça, é necessário engendrar um novo conceito de beleza não subjugado às convenções vigentes e aborrecidas. É preciso pôr em prática uma pequena revolução (também no sentido: marcha circular de um corpo celeste no espaço, em torno de um outro).

Para nossa grande alegria, os filmes de Hong Sang-Soo mostram tudo isto com muita delicadeza e até um certo humor — uma aprendizagem favorável. Talvez seja uma consequência do álcool e tabaco que circulam pelas personagens.


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