Há vinte e três anos (em 1937) escrevi um livro inteiro sobre lágrimas. E depois, sem derramar uma única lágrima, nunca mais deixei de chorar.
Quantas horas não terei passado a pensar nas lágrimas que não derramei, que não pude derramar!
Vivi toda a minha vida com a sensação de ter sido afastado do meu verdadeiro lugar; se as palavras «exílio metafísico» não tivessem nenhum significado, a minha existência dar-lhe-ia um. Não podemos ser menos deste mundo do que eu — por isso é que pensei tanto em lágrimas. Podia escrever um livro inteiro sobre elas; aliás, escrevi um em romeno. Sentir a própria carne a chorar, o sangue a carregar lágrimas, é do interior de sensações semelhantes que se compreende Plotino quando ele diz que a existência cá em baixo é «a alma que perdeu as asas».
Ter escrito um livro inteiro sobre lágrimas (e santos) — de certeza que isso tem um significado profundo.
Tudo o que escrevi reduz-se a isso, a lágrimas agressivas.
Um troglodita e um esteta.
Emil Cioran, Cadernos 1957-1972
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