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Notas de viagem

Tuzla, Bósnia
Na porta de um edifício público, três anúncios de óbito. Dois homens e uma mulher. Os anúncios são do mesmo tamanho e visualmente semelhantes, excepto o símbolo impresso no topo de cada um. O primeiro é uma inscrição islâmica, o segundo é uma cruz ortodoxa e o terceiro são duas penas cruzadas, sinal de que era ateu ou não tinha religião.

Skopje, Macedónia do Norte
O fachadismo de Skopje é o exacto oposto do fachadismo do Porto. O interior dos edifícios é o mesmo do tempo da Jugoslávia, mas as fachadas são substituídas por grotescas imitações neo-helénicas. No Porto, pelo contrário, mantém-se a fachada e arrasa-se o interior. Em ambos os casos, o passado não passa de um bibelô que se usa de acordo com o gosto e a política do momento.

Skopje-Ohrid
Estrada entre Skopje e Ohrid. No jardim de algumas casas, as pessoas cultivam flores e postes de betão com vários metros de altura onde adejam gigantescas bandeiras albanesas. Ao longe, parecem manchas de sangue, entre o céu e as montanhas.

Ohrid, Macedónia do Norte
Primeira frase do guia turístico de Ohrid: «Macedonia is an ancient biblical land.»
Fica mais barato comer nacionalismo do que chorba, salada ou pão. É uma dieta pobre em nutrientes, mas altamente calórica.

Ohrid-Ksamil, Albânia
As borbulhas de betão de Enver Hoxha irrompem de todo o lado. Centenas de bunkers ao longo da estrada para Ksamil e em cada caminho de montanha. O prurido inescapável da história.

Ksamil, sul da Albânia
Nas zonas de maior pressão turística, junto à costa, tudo é privado. As praias, os calhaus, as pulgas-da-areia, as ondas e até os bunkers que os miúdos usam para se lançarem acrobaticamente à água. Foi tudo tomado pelo «mercado». Não há um metro de espaço público. Só o lixo parece ser de todos.

Ksamil-Berat
A caminho de Berat, paramos para dar boleia a um casal de jovens. Ela polaca, ele britânico. Vinte e poucos anos. Disseram-nos que passavam uma parte do ano a viajar para «conhecer novos lugares, novas culturas e novas pessoas». Depois, queixaram-se de que na Albânia «se viam muitos ciganos».

Berat-Tirana
Entre o sul e o norte da Albânia, mas também entre a Sérvia e a Macedónia do Norte, ou entre a Bósnia e o Montenegro, as estradas atravessam centenas e centenas de quilómetros de bosques com árvores de todas as espécies. Não se vê um eucalipto. Os olhos e o cérebro demoram a habituar-se.

Tirana, Albânia I
Em Tirana, os velhos bunkers de ferro e betão do regime ditatorial foram substituídos por arranha-céus de ferro, betão e plástico do regime liberal. Bunkers de luxo para diplomatas, executivos e turistas endinheirados.

Tirana, Albânia II
Ao lado da antiga sede da Sigurimi, a polícia secreta e de informação do regime de Enver Hoxha, ergue-se agora a sede da empresa de telecomunicações ALBtelecom.

Aeroporto de Belgrado, Sérvia
Uma mulher aproveita a água de uma garrafa, que não pode passar pelo controlo de segurança, para regar as plantas do aeroporto.

Lisboa, Jardim da Estrela
Junto ao lago, os avós ajudam os netos a dar pão aos patos e a pontapear as pombas.

Comentários

c disse…
Um diário de viagens aforístico. Bravo!