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Fugir do verão como da peste

Devia reconsiderar o «problema» do suicídio: parece que negligenciei os seus aspectos mais interessantes. Podia considerá-los agora, pois notei que é de preferência no verão que me sinto disposto a abordar uma questão destas. Será o calor? Será a luz? O sol sempre me incitou a repensar este mundo e despertou em mim crises de melancolia às vezes insuportáveis. As minhas «trevas» impedem-me de me pôr em uníssono com o esplendor envolvente; do choque entre o que sinto e o que vejo nasce este estado de humor negro e tudo o que daí advém. 


O verão é a estação das grandes impossibilidades. O sol é um fornecedor de ideias negras. Nada convida tanto à melancolia como uma paisagem devastada pela luz. Fugir do verão como da peste.


Emil Cioran, Cadernos 1957-1972  

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