Vou agarrar-me a estes cadernos pois são o único contacto que mantenho com a «escrita». Há meses que não escrevo mais nada.
Este exercício diário até é bom, permite-me aproximar-me das palavras, e despejar aqui as obsessões, ao mesmo tempo que os caprichos: o essencial e o inessencial ficarão registados por igual. E tanto melhor assim. Pois nada é mais ressequido e fútil do que a busca exclusiva da «ideia». O insignificante deve ter direito de cidadania, até porque é por ele que acedemos ao essencial. A anedota está na origem de toda a experiência capital. É por isso que é mais cativante do que qualquer ideia.
Emil Cioran, Cadernos 1957-1972 (dezembro de 1968)
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