Já não vale a pena fazermos o cinema da esperança socialista. Da esperança capitalista. Já não vale a pena fazermos o cinema de uma justiça por vir, social, fiscal ou outra. O cinema do trabalho. Do mérito. O cinema das mulheres. Dos jovens. Dos portugueses. Dos malianos. Dos intelectuais. Dos senegaleses.
Já não vale a pena fazermos o cinema do medo. Da revolução. Da ditadura do proletariado. Da liberdade. Dos vossos fantasmas. Do amor. Já não vale a pena.
Já não vale a pena fazermos o cinema do cinema.
Já em nada acreditamos. Acreditamos. Que alegria: acreditamos: em nada.
Já em nada acreditamos.
Já não vale a pena fazermos o vosso cinema. Já não vale a pena. Temos de fazer o cinema do conhecimento disso: de não valer a pena.
Que o cinema vá para o inferno, é o único cinema.
Que o mundo vá para o inferno, que vá para o inferno, é a única política.
O Camião. Textos de Apresentação. Primeiro Projecto. Marguerite Duras (tradução revista).
Comentários
o on croit plus (-) vira on croit (+). o plus la peine (-) talvez vire também plus la peine (+). é como o final do l'argent, charles péguy. é o mesmo resultado inesperado
Fica um português um bocado escangalhado, parece mais a língua da senhora da camião do que da Duras.
Eu nem tinha intenção de traduzir coisa alguma, mas esse problema ficou me atormentando um punhado de dias sem que eu encontrasse uma resposta sequer
Em portugês não conseguimos as duas coisas juntas.
Pode-se forçar um bocado, mas perde-se a simplicidade, a vulgaridade:
Não vale a pena fazer o cinema da esperança socialista. Da esperança capitalista. Não vale a pena fazer o cinema de uma justiça por vir, social, fiscal ou outra. O cinema do trabalho. Do mérito. O cinema das mulheres. Dos jovens. Dos portugueses. Dos malianos. Dos intelectuais. Dos senegaleses.
Não vale a pena fazer o cinema do medo. Da revolução. Da ditadura do proletariado. Da liberdade. Dos vossos espectros. Do amor. Não vale a pena.
Não vale a pena fazer o cinema do cinema.
Já em nada acreditamos. Acreditamos. Alegria: acreditamos: em nada.
Já em nada acreditamos.
Não vale a pena fazer o vosso cinema. Não vale a pena. Tem de se fazer o cinema do conhecimento disso: de não valer a pena.
Que o cinema vá para o inferno, é o único cinema.
Que o mundo vá para o inferno, que vá para o inferno, é a única política.
Mas é mesmo qualquer coisa. É como descer uma escada. Joie : on croit : plus rien.