(...) Ora, para concluir e regressando às paragens de
metrobus, Rui Moreira preferiria umas “coisas levezinhas, envidraçadas”, quase invisíveis, para não perturbar as vistas idílicas da burguesia local. Ora, talvez me aventurasse a dizer que, para Álvaro Siza, que conserva ainda um sentido profundo e social daquilo que é fazer uma cidade — ao contrário do autarca portuense —, as paragens desenhadas em betão correspondem precisamente ao gesto arquitectónico de procurar marcar e
tornar visível no espaço urbano aquilo a que a classe a que Rui Moreira pertence tende a não aceitar: o facto de a cidade não ser apenas a sua propriedade exclusiva, mas de todos. Nada há de mais social e definidor do território urbano do que esses pequenos equipamentos públicos tantas vezes desqualificados (inclusive pela própria CMP). São estes, na verdade, os grandes
monumentos da vida quotidiana das cidades e dos seus moradores; e não certamente as vivendas privadas endinheiradas e
kitsch da Avenida do Marechal Gomes da Costa. É essa defesa da cidade como bem público, de todos e para todos, que um arquitecto como Álvaro Siza procura, com os seus poucos meios, ainda defender — até ao ponto da sua
monumentalização — e que alguém como Rui Moreira jamais poderá compreender. Como referia na mesma ocasião o autarca, é mesmo uma “questão de vacas sagradas”.
Comentários
"Além do mais, é o tipo de gente que constrói casas de férias modernas com betão à vista, mas depois diz mal do material."
Rui Moreira revela que é um mau leitor porque não percebeu o que leu; é um péssimo democrata porque pensa que a democracia é aceitação (do que alguns acham que é melhor para nós) e não, como deve ser, discussão horizontal em que estamos todos no mesmo plano; e escreve como se estivesse a mandar bocas num canal de televisão.
O Siza Vieira ficou com o melhor papel: encolheu os ombros e fumou mais um cigarro (Lucky Luke em vez do Obélix). E a Marechal começa a ser nossa.