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Par les champs et par les grèves

Nantes
Uma cerveja, ao fim da tarde, num bar chamado Corneille, que fica nas traseiras do edifício da Ópera. Copo pequeno, bebida vulgar. A mais barata da lista. Nem drama, nem comédia.

Noirmoutier-en-l'Île
Uma hora e tal pelos campos entre Nantes e Noirmoutier-en-l'Île, a pequena povoação balnear onde se rodaram várias sequências de As Praias de Agnès. O mar é um grande lago de águas paradas. O areal está coberto por conchas de ostras. Milhões de pequenas peças de mármore branco e cinzento esculpidas por um dadaísta enlouquecido.

Saint-Marc-sur-Mer
Foi aqui que Monsieur Hulot fez férias em 1953. E daqui não mais saiu. Está por toda a parte: nos nomes das ruas, nos logotipos das lojas, nos menus dos restaurantes. A praia chama-se agora «Plage de Monsieur Hulot» e o hotel da rodagem, comprado há uns anos por uma cadeia internacional, tem a personagem de Tati pintada numa das empenas.

A praia é de areia escura. Borboletas da couve adejam no ar como flocos de espuma branca. Ao longe, dezenas de cargueiros avançam em fila indiana e um gigante espetou o farol no meio do mar.

Pont-Aven
Da velha Escola de Pont-Aven, restam as gralhas. Empoleiradas nos telhados, como fantasmas de outro tempo a rirem dos turistas.

Na casa-de-banho do Café du Centre, alguém escreveu na porta: «Gauguin chié ici.»

Port-Louis
La Grand Plage não é assim tão grande, mas é soberba. Às sete da tarde, ainda há banhistas a chapinhar no mar, sob a chuva miudinha. Um ou outro turista, com roupa de Inverno, avança uns passos no areal para tirar fotografias. Barcos saem do porto e desaparecem vagarosamente num azul de chumbo.

Uma amiga escreve-nos
«Hão-de rir do que vos confesso, mas o que eu prefiro da Bretanha é a forma dos pinheiros despenteados, os pedregulhos de antanho, o trabalho escultórico dos cruzeiros e a calma sinistra dos viveiros de ostras.»

Vannes
Sábado de manhã. É dia de baptismo. Repicam os sinos da velha catedral. As almas dos pequenos bretões estão salvas.

Saint-Malo
Chove e faz frio. No entanto, continuam as filas nas casas e rulotes de gelados. O Conto de Verão, de Rohmer, nunca acaba.

Dinard
Uma nuvem interminável de pequenos barcos espalhados pela baía: mosquitos pousados de costas no mar com os ferrões a apontar para o céu.

Cherbourg
Como num guião previsível, chegámos a Cherbourg debaixo de uma chuvada e sem guarda-chuva. Na boutique da marca Les Parapluies de Cherbourg, o mais barato custa 160 euros.
Um último passeio pelo cais à chuva.

Porto
Grãos de areia dentro das sapatilhas. Sacudo-as. Acabou.



Comentários

c disse…
Que belo relatório!


(Não acabou nada, agora é que começa)